Rolou na www, meses atrás, um video interessante:
durante 10 anos um cara fez uma simples pergunta a diversos artistas (a
maioria, músicos): "Lennon ou McCartney?". Curto e grosso. Lennon ou
McCartney, como num plebiscito. As respostas viraram um documentário.
De inicio, achei péssima ideia. Não sou muito fã
de listas de 10+, retrospectivas de fim de ano, seleções de todos os tempos...
desconfio de esquemas rígidos que tentem enquadrar a realidade, vivências e
sensações. Mas reconheço que são tentativas divertidas, que geram bons papos e
que podem nos mostrar muitas coisas, ainda que por tabela, diferentes da
intenção primeira.
O resultado da enquete é o que menos interessa.
Nesses casos, cada voto é um mundo particular e não faz sentido somar mundos
particulares pois o resultado nunca será um mundo coletivo. O que me chamou
atenção foi a falta de sinceridade em, digamos, 90% das respostas.
Artistas geralmente são pavões que só gostam de
falar de si mesmos. Como naquela piada em que um diretor de cinema estava
jantando com uma garota e, depois de uma hora falando sobre si mesmo, disse
"Ok, chega de falarmos de mim, vamos falar de você: diga-me o que você
achou do meu último filme". Artistas pop, como políticos, entre falar
a verdade ou algo que os deixe bem com seu público, às vezes titubeiam.
90% (digamos) dos entrevistados no documentário
"John ou Paul" estava ciente de que, no momento, é mais cool optar
por John. Na sua característica mais asquerosa, o mundo pop define com
obsolescência programada o que é cool. Chega uma hora em que o cool deixa
de ser cool (geralmente quando ganha as massas).
Foi muito interessante sacar, nos poucos segundos
antes de dar a resposta, o cérebro dos entrevistados trabalhando a mil para
dizer algo interessante, descolado, surpreendente. Vários quiseram parecer mais
que cool ao girar em 180 graus a seta do coolismo, citando
a ousadia do autor de Helter Skelter; outros mandaram as respostas
malandrinhas de sempre (trocadilhos com Lennon/Lenin, votos no George, no
Ringo, no Keith Richards... e um metido a besta disse "nenhum dos
dois"). Também foi citado o clichê "juntos eram maiores que a soma
das partes".
Digamos que 90% dos caras e minas quiseram usar a questão para fazer um manifesto em uma frase enaltecendo... a si mesmo. Ao fim dos vinte minutos de documentário, depois de centenas de declarações, pouca gente pareceu sincera. Talvez porque a resposta franca para a maioria das pessoas fosse pouco midiática, um anticlímax: "não sei" ou "os dois".
Digamos que 90% dos caras e minas quiseram usar a questão para fazer um manifesto em uma frase enaltecendo... a si mesmo. Ao fim dos vinte minutos de documentário, depois de centenas de declarações, pouca gente pareceu sincera. Talvez porque a resposta franca para a maioria das pessoas fosse pouco midiática, um anticlímax: "não sei" ou "os dois".
Das respostas mais honestas, 90% (digamos) foram de mulheres. Corroborando minha tese de que elas são mais maduras; por isso (geralmente) não discutem futebol nem fazem guerras.
E aí, quem você prefere: Yoko ou Linda (com L
maiúsculo)?
Ps.: Não sou capaz de escolher entre John e Paul.
Mesmo. Gosto dos dois. Mesmo. Tenho toda a discografia do Lennon e só uma
coletânea do McCartney; mas, se um arqueólogo do futuro quisesse deduzir minha
preferência através do exame de minha discoteca, cometeria um equívoco pois,
como disse uma das entrevistadas sobre quem esnoba Paul: "Tente escrever Eleanor Rigby e veja como você se sai".