quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

M(*)ney


Dinheiro. Astral estranho cerca esta palavra. Seja na especulação online, global e sem cheiro, seja nas imundas notas amassadas do mundo físico; é um astral estranho.

Tranquilizo quem resistiu a este par de frases hippongas e continua lendo: eu sei que se pode comprar coisas bacanas. Não só objetos: dá pra comprar tempo, informação e saúde. Mas também dá pra fazer um monte de merda com tempo, informação e um cirurgião plástico.

Não conheço ninguém que goste de dinheiro. Quase todo mundo que eu conheço gosta (adora, venera, necessita) do poder e do prazer que o dinheiro pode trazer.

(*)

Tudo na vida tem um lado bom e um lado ruim (com exceção dos LPs do Pink Floyd, que tinham dois lados bons). O dinheiro tem um lado interessante: ele é sincero, fala alto e deixa tudo explícito. É uma ferramenta útil para explicar como e porque andam as coisas. Money talks, bullshit walks

(*)

Para facilitar a convivência, nossa tragicômica raça criou relógios, sinais de trânsito, apertos de mão, gramática e moeda. São algodões entre cristais. Mal usados, relógios, sinais de trânsito, apertos de mão, gramática e moeda se transformam em elefantes numa loja de cristais. Ah, nossa cristalina raça...

O que acontece com a boa ou má utilização do dinheiro, todos sabemos. O que frequentemente esquecemos é de reconhecer sua importância como mediador de trocas. Imagine se não existisse: se eu fosse músico, teria que pagar meu médico com uma canção! E se nenhum médico gostasse do meu som? Por outro lado, nenhum ginecologista jamais poderia ouvir minhas músicas pois eu não teria uso para seus serviços.

Claro, poderíamos fazer tudo por amor. Mas... ah, o amor! Melhor não sobrecarregá-lo, né? Melhor deixá-lo florescer ao seu modo. Onde e quando menos se espera. Frágil e imortal.

(*)

Alguns artistas (e todas as religiões) também oferecem sistemas para explicar o mundo. E há os pensadores, é claro. Marx e Adam Smith. Freud e Jung. Einstein, Newton, Copérnico, Galileu... O grande Darwin! Todos com sacadas geniais. Cada um na sua.

Tudo na vida tem dois lados: um bom e outro ruim (com exceção dos discos do ............. , que só têm lado ruim). Quando um sistema é muito bem concebido, é difícil escapar da tentação de usá-lo fora de contexto. É conhecido o caso do cientista soviético que tentava aplicar as ideias de Marx na (pásmem!) genética das plantas. Também é muito comum usarem, erroneamente, o darwinismo para explicar movimentos sociais. O dinheiro, nem se fala, tá sempre entrando onde não foi convidado: nas relações familiares, nas amizades... no amor? Nah... Deixemos o amor em paz. Falar de amor não é amar.

Com exceção das religiões (que são indiscutíveis por se basearem na fé e em dogmas) todos os sistemas pra explicar o mundo, por melhor que sejam, são parciais. Eles têm limites. A realidade nunca se deixa capturar completamente. Algumas vezes até parece que ela não existe, né?

Acho que enveredei por esta trilha porque começou a tocar nos meus fones a canção que diz: it all makes perfect sense expressed in dollars and cents, pounds shillings and pence. E, por um momento, tudo fez sentido. Só por um momento.

A realidade, bichinho assustado, escapou de novo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário