No tempo em que se falava de política com receio
e olhando pros lados, uma piada de humor negro dizia que “a esquerda brasileira
só se une na prisão”. E era verdade. Quanto mais aparentemente próximos nas
ideias, maior a dificuldade de união na vida real. A regra era subdivisão em
correntes, facções e subgrupos. Pra ficar num exemplo folclórico: era quase
impossível ver o Partido Comunista Brasileiro e o Partido Comunista do Brasil
juntos.
(*)
Já vi religiosos de crenças bem parecidas
(originadas no mesmo cristianismo) discutindo com uma veemência que não usariam
em discussões com agnósticos ou seguidores de outras tradições.
Água e azeite, tão próximos e tão distantes.
Água e azeite, tão próximos e tão distantes.
(*)
Às vezes é mesmo mais difícil mudar pequenos
detalhes e vencer pequenas distâncias do que fazer gestos grandiloquentes e dar
grandes saltos, né? Mais fácil mudar de profissão do que mudar o modo de
encarar a profissão. Mais fácil ir morar em outro continente do que ir
dormir no quarto ao lado.
(*)
Narcisismo das
pequenas diferenças é um conceito
usado por Freud. Se entendi bem, se refere a situações em que o pouco que há de
diferente (entre duas pessoas, duas cidades, países) se sobrepõe ao muito que
há em comum.
Ouvi a expressão em dois momentos bem distintos: numa palestra sobre a II Guerra Mundial (que abordava a rivalidade entre nações vizinhas, culturalmente próximas) e num papo com um amigo que achava seus primos chatos e suas primas pouco atraentes (ah, a distância entre parentes próximos...).
Freud, como todo grande poeta, sempre dá pano pra manga. Seja na sala de aula ou na mesa do bar.
Ouvi a expressão em dois momentos bem distintos: numa palestra sobre a II Guerra Mundial (que abordava a rivalidade entre nações vizinhas, culturalmente próximas) e num papo com um amigo que achava seus primos chatos e suas primas pouco atraentes (ah, a distância entre parentes próximos...).
Freud, como todo grande poeta, sempre dá pano pra manga. Seja na sala de aula ou na mesa do bar.
Ps.: Narciso é aquele que (segundo Caetano Veloso na letra de Sampa) acha feio o que não é espelho.
Ps 2.: Tentando descobrir mais sobre o tal narcisismo
das pequenas diferenças no amansa-burro digital, tropecei numa parábola de
Schopenhauer:
Em um gelado
dia de inverno, os membros da sociedade de porcos-espinhos se juntaram para
obter calor e não morrer de frio. Mas logo sentiram os espinhos dos outros e
tiveram de tomar distância. Quando a necessidade de aquecerem-se os fez
voltarem a juntar-se, se repetiu aquele segundo mal, e assim se viram levados e
trazidos entre ambas as desgraças, até que encontraram um distanciamento
moderado que lhes permitia passar o melhor possível.
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