Na volta de
uma recente viagem, esqueci no ônibus o livro que estava lendo -Número Zero,
Umberto Eco. Rateadas dessas acontecem com mais frequência do que eu gostaria
de admitir.
Pra evitar
esquecimentos, me disciplinei a jamais colocar livros no "bolsão em frente
ao assento (o verdadeiro triângulo das Bermudas do transporte rodoviário, onde
livros somem para nunca mais)". Nem sempre funciona: na ocasião, o livro
deve ter caído das minhas mãos para o colo e de lá para o chão enquanto eu
sonhava. Só me dei conta da perda em casa, quando procurei o livro na
mochila para aquela lidinha básica antes de dormir. Putz... a alternativa era
buscar na estante um substituto, mesmo já tendo lido todos que estão ali.
Quem gosta de
ler e lê bastante deve concordar comigo: com tanta coisa boa pela frente, tanta
ignorância a aplacar, reler, mesmo os favoritos, não é uma decisão fácil. Dá um
pouco a sensação de que deixamos de procurar, de avançar. Por outro lado, um
reencontro com um livro que tenha nos marcado está sempre no horizonte dos
nossos desejos, né? E no fim das contas, podemos avançar em várias direções,
mesmo refazendo o caminho.
Enfim... mania
é mania, não se discute. Gosto de ler antes de dormir e precisava escolher,
naquela estante, um livro já lido.
Ainda no
corredor, entre o quarto e a sala, me decidi pelo Grande Sertão: Veredas. Mas,
enquanto percorria com o olhar as lombadas, me lembrei que, em Itabuna, um
mesmo livro (Doutor Fausto) havia pintado em duas conversas diferentes, com uma
colega e minha irmã. Muita coincidência. Resolvi dar essa moral pro destino e,
pedindo desculpas ao Guimarães Rosa, desviei para o Thomas Mann.
Li Doutor Fausto em 2012. A releitura tem um aspecto novo, interessante e divertido: descobrir o que o tempo fez ao livro e ao leitor. Já nas primeiras páginas, o prazer cada vez mais raro de um texto denso e profundo. Linda dissonância da norma nesses tempos velozes e fragmentados da www, onde todo mundo escreve se achando juiz e comediante, com incontinência verbal e as postagens já envelhecem enquanto são escritas.
Como
contraponto, já tá valendo.
Beyond a shadow of doubt... <3
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